processo de trabalho
tinta acrílica sob membrana
Estas imagens são feitas com tinta acrílica sobre uma membrana acrílica transparente, que é o seu suporte. É um material semelhante ao das boias de praia das crianças. Esta película é colocada esticada num bastidor, na vertical, entre o observador e a coisa-modelo. Sobre ela, pintando primeiro os pormenores e depois o fundo, a imagem toma forma. Durante o processo, só posso ver a pintura se der a volta e for ao outro lado, à face da película que está voltada para a coisa-modelo, pois é desse lado que a pintura se vai dar ver no final ao espectador. Durante a maior parte do processo só vejo as “costas” da imagem.
Se, por um lado, isto torna necessário o estabelecimento de um grau de rigor na escolha e manutenção do ponto de vista e de outras variantes do processo (para que este processo “invertido” não desemboque em cegueira inconsequente), por outro lado liberta-me da pressão de lidar constantemente com os meus próprios juízos sobre a imagem. Durante a maior parte do tempo, o observador apenas tem, como no perspectógrafo renascentista, de “copiar” com um único olho aberto para a película as formas e cores que vê do modelo através da própria película.
Os modelos são construidos a partir de materiais variados e, às vezes, incluem plantas e pessoas reais.
imagem feita por mim que vai tornar-se modelo de outra imagem
de novo um modelos com uma imagem feita à mão
sessão de trabalho para a Fundação Sara e André, 2012
tinta acrílica sobre vidro
As imagens a tinta acrílica sem suporte são feitas sobre vidro. O vidro é colocado entre quem pinta e o objecto que, em cada ocasião, for o modelo da pintura. Como no perspectógrafo renascentista, o obervador tem de escolher cuidadosamente o seu ponto de vista e estar absolutamente quieto durante o processo de criar a imagem, durante muitas horas. Se o modelo for humano, o mesmo se aplica ao modelo. Depois de feita a imagem, é dada sobre o vidro uma última camada de tinta muito espessa. Quando esta camada seca, a imagem é retirada inteira do vidro. Esta autónoma placa de tinta é o que se expõe, colando-se com fita-cola dupla ou velcro à parede da exposição, à maneira de um poster arrancado da rua ou de uma tapeçaria.
No caso das imagens feitas a partir de esculturas (2009), os modelos foram feitos maioritariamente em barro, sendo destruídos logo após a realização da pintura. As imagens foram realizadas no mesmo local onde o barro para as peças é retirado da terra: no Monte Mimo, Alvalade do Sado, Alentejo. O barro foi depois utilizado na construção de uma estrutura arquitectónica.
fotografias: Sara e André, Sérgio Correia e Daniel Vasconcelos Melim