O baralho é composto de versões de cartas antigas redesenhadas a olho por mim, em tinta da china a pincel, sem recurso a decalques ou mecanismos de sobreposição de de espécie nenhuma. Cada uma das 22 cartas é oriunda de um baralho diferente, ao longo dos 500 anos de história que o Tarot tem. A mais antiga é de aproximadamente 1450 (baralho Visconti Sforza) e a mais recente é de 1929 (baralho Knapp). A linha preta foi depois impressa em serigrafia puxada à mão (na oficina de Lucas Almeida) e as cores foram adicionadas com aguarela à mão. A linha preta é razoavelmente fiel ao original, mas nas cores são tomadas mais liberdades, para dar um sentido de conjunto a cada baralho e de certo modo honrar séculos de baralhos bela e imprevisivelmente mal impressos.
A produção deste baralho, numa edição única, limitada, assinada e numerada de 50 exemplares, insere-se no meu estudo mais amplo de sistemas de imagens feitas à mão (de várias culturas, sendo o Tarot o caso "Ocidental" mais flagrante) que se relacionem com transformação pessoal e estejam próximas do quotidiano das pessoas. No Tarot, interessa-me a manutenção mutante de imagens ao longo de séculos, e interessam-me os usos oraculares afectuosos e aprofundantes feitos dele, não me interessam as derivações egocêntricas e futurológicas. O baralho chama-se Histórias do Tarot não somente porque assenta num estudo de muitos meses da História do Tarot mas também, e mais precisamente, para dar conta da polissemia narrativa que para mim é a riqueza fulcral das leituras/histórias feitas com estes baralhos. Confio que a força arquetípica (C. Jung) de cada Triunfo (vulgarmente chamado Arcano Maior) será suficiente para dar coerência a este pequeno esforço de criar baralhos que abracem muitas vozes, tempos e visões distintas.
É um baralho de colecção, feito em cartão rígido envernizado e que pode ser usado para leituras, mas que tem naturalmente delicadezas, pequenos transbordos e assimetrias próprias de uma edição caseira e não eficazmente industrial. A numeração e a legendagem de cada imagem (ou a ausência delas) são as de cada autor dos originais. Cada baralho contém uma carta extra de que nomeia o criador, data e local de produção do baralho original de cada carta.