Dia 12 Agosto de 2017 abriu a exposição chão de orações na Porta 33. A exposição foi concebida para o MUDAS-Museu de Arte Contemporânea da Madeira e continuou agora a sua itinerância pelo Funchal. A exposição continha imagens sobre papel e um livro. O livro, lançado no ano anterior pela Direcção Regional de Cultura, continha algumas dessas imagens e textos (orações) escritos por mim. Nesse dia, houve uma conversa pública com o Nuno Faria (curador e director do Centro Internacional das Artes José de Guimarães - CIAJG). Falámos sobre o trabalho exposto, sobre a prática de fazer imagens e palavras, assim como sobre os projectos de imagens para pessoas que tenho vindo a desenvolver. Durante a semana seguinte, realizei um desses projectos na Porta 33, chamado imagens para abrir espaço. Propus-me a realizar imagens em sessões individuais, para simbolizar um desafio pessoal que a pessoal tenha neste momento. Uma vez feita essa imagem, com a minha ajuda a pessoa determina qual o destino físico a dar àquele desenho, de forma a simbolizar e arquetipicamente activar desde já uma nova actitude ou perspectiva sobre o desafio. Com excepção da primeira sessão, feita experimentalmente com o próprio Nuno Faria, não se registaram imagens nem do processo nem das imagens. Houve desenhos queimados, desenhos rasgados e desenhos que vieram a ser enterrados na serra do Fanal. Houve desenhos que foram levados para serem emoldurados e outros que vão ganhar morada junto a uma escultura específica lá em casa. Houve também a execução de um conjunto de imagens/cartas projectivas para uma única pessoa, e a invenção por parte dessa pessoa do modo de ler as cartas baseadas na sua própria vida. Porque cada pessoa, mão de vontades que segura e activa todas as correntes conscientes e inconscientes das quais somos compostos, é o agente principal da criação da sua vida. Houve quem saísse da sessão acordando escrever uma carta para si mesma em cima da imagem do seu corpo e houve quem se comprometesse, e cumprisse, a enviar-me quatro dias depois a imagem de uma criação feita por ela própria. Essa criação (uma bandeira) não só era algo que ela já queria muito fazer, uma técnica diferente do habitual e esperado nela, como simbolizou uma mudança concreta que ela já queria fazer na sua vida. A partir de certo ponto, fez sentido abandonar a definição estrita/anunciada do que deveria acontecer na sessão de imagens para abrir espaço, para deixar que aquele espaço servisse sobretudo como pretexto para as pessoas se autorizarem a fazer o que no fundo já queriam fazer.
No futuro, penso que estas sessões podem eventualmente ser representadas por fotografias tiradas pelas próprias pessoas e por dois parágrafos curtos: um escrito por mim e outro escrito por ela, cada um contando como foi a sua experiência. A dimensão humana da sessão em si é a essencial, mas há também algo de socialmente válido em fazer saber aos outros que esta dinâmica específica entre dois seres humanos existiu.
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