DANIEL V. MELIM
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A RELIGIÃO ESQUISITA DE IR AO QUINTAL À NOITE. Mesmo no frio de inverno, a mesma coisa rebelde estala afectuosa a partir de dentro de todas as formas. No modo das plantas reagirem ao vento, de se aninharem umas nas outras cantando o próximo salmo ao ouvido da planta que está ao lado. Elas convidam-se umas às outras a entrar no mistério e são a assistência viva desta capela que tem abóbadas e altares definidos por estruturas de jardim antigas, quebradas e disfuncionais. E das altas silhuetas negras, dos braços nus e erguidos destas árvores saem orações que nos levam para todo o lado e que recolhem lições das estrelas do céu limpo e enorme que as encima. Ao longo do corredor que passa ao centro entre os canteiros, chegam convites subtis de plantas que apontam para todas as direcções do universo. E há uma canção de intimidade com os emaranhados de vegetação, troncos, muros e chão que nos chega através da sombra e do seu ligeiramente amargo véu de possibilitar. E o modo de cada planta resistir com a sua forma ao vento é a parte visível do seu idioma que tem origem lá em baixo não se sabe onde. Tudo fala nesta canteiríssima floresta de capela. E diz uma língua de cima e uma língua de baixo, diz um linguado vivo e centrado das coisas com as coisas, sejam elas mais ou menos visíveis. E oramos ao andar lentamente e olhar para isto, estando quietos e deixando de estar, ao perceber e deixar escapar o sentido deste lugar. Oramos ao reparar na ligação entre hastes secas de videira desenhícola e pedaços de vedação ferrugenta, oramos ao reparar na perpendiculeira aranha e na união da sua tecida cúpula privada bidimensional com a lâmina de uma enxada tombada. Orar repara, oramos ao reparar a ligação. Nestes nós de plantas bifurcadas no escuro, e no espaço estrelado entre elas, estão todos os negros esboços de capelas e catedrais a haver. A trama negra de galhos arquilongos e manchas de folhas aqui e ali é, definida contra luz do céu com lua, simultaneamente o que sobrou da última e a formação lenta da próxima catedral verdadeiramente humana. Uma luz branca vigorosamente recortada e dispersa é o que as cúpulas rotas deixam que da lua cheia chegue ao chão húmido. E na atenção balançada com o vento circulam, invisíveis como corpos de gatos que por aqui andem de pálpebras baixas, orações que têm o seu próprio ciclo de próprio cio e choro e que é nosso dever ajudar a parir para o mundo. As carpideiras medram ocultas por detrás de uma planta a cujo nome os gatos são estranhos, e estão prontas a explorar o espaço. O coro rebenta pelos muros de pedra às vezes recoberta de cal, apresentando brechas em delta como o som de fundo deste lugar. Os órgãos soam simultaneamente dentro e fora de si. Embebidas num afecto ventoso, o ligeiro e constante movimento das plantas mais pequenas diz simultaneamente sim, olá e adeus. Uma igreja rasgada, incombrível, sem padre, em que as tuas intuições se embrenham fecundadas no que vêem. Um lugar onde o tráfego nos dois sentidos entre o claro e o estranho é considerado sagrado, sangue das veias da língua viva. E quando nascem as orações, as plantas e as estruturas do jardim esgotam-se umas para dentro das outras, e aninham-se com terra e estrelas na garganta de quem se dispõe a espalhar o cântico rebelde e afectuoso. Árvore raio. Biblioteca de formas. Montanha de folhas ilegíveis. Rebento de santa luzia. Flor de mão a tactear o escuro.

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DEPOSITO OS CACOS DO ALTAR ANTERIOR AOS PÉS DO ALTAR VIVO. Um atrás do outro os altares caem. A humildade apaixonada liberta-te das tuas formas, e cais para dentro da luz. A casca da pele abandonada da cobra conserva intactos dois perfeitos orifícios para os olhos. O sagrado consegue passar através das adorações mais tensas e egocêntricas. A nossa adoração transporta altares que arruínam as suas formas constantemente, deixando ver entre os escombros outros altares que pela mesma ausência de tempo e pela mesma linhagem de pureza se arruinarão também, revelando do seu interior a mesma imprevisibilidade. O medo agarra-se às pedras que se soltam e às pedras que nos seguram o amor do momento. Há um esplendor tremendo no erro, na cegueira que retém a cobra escondida cega e desprotegida no universo dos quarenta dias que leva a perder a pele. Do ponto de vista do céu, os altares estão sempre amados e absolvidos. Os homens conduzem as cobras de energia através do fascínio e das mordeduras, do encantamento e da morte. As sedes conduzem-se para a sua água, as formas rígidas salvam-se através da sua ruína. O amor gigantesco mantém o espaço a mudar. A salvação não salva nada, a funcionalidade não impede o mundo de cantar, o assassinato não desliga a mãe do assassino. Somos gárgulas adorando a água que nos corre pela abertura da boca, servindo igualmente gananciosos e mestres. Na intimidade secreta do fascínio, amamos muito mais o mal e a perturbação do que aquilo que admitimos. Na desmesura honesta dos momentos de amor, sabemos que só podemos avançar se nalgum ponto isto falhar. De mãos abertas ou fechadas, no reconhecimento ou na ignorância asquerosa, o amor renasce-nos como suor a sair da pele de um lavrador generoso que trata mal os seus filhos ou como suor a sair da pele rente à relva de um avançado ao falhar mais um golo de cabeça depois de um grande voo. Cada altar em que estamos metidos regressa-nos cada vez mais, no tempo certo para o nosso amadurecimento cada explosão dos nossos altares iguala-nos exponencialmente à maternidade receptiva do céu azul.
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GOSTAVA DE RECOLHER PROFANOS PELOS CAMINHOS, gostava de fazer grandes molhos com eles, de os levar num saco bonito de pano. Gostava de os encontrar do lado de lá das levadas, perto de tanques rachados, perto de sítios onde o sol ainda há pouco e a água ainda corre, unindo vedações, boquiabertos para as traseiras de casas. Gostava de colhê-los novos, velhos, mediúnicos, estranhíssimos à porta das tascas. Gostava de acolhê-los rente ao chão, distribuidos pelas árvores, entre os tijolos das casas em contrução olhando as mulheres. Gostava de os carregar no meu colo a partir dos berços de chapa onde se encontram, de acessos ao mar destruídos pela tempestade onde esperam, de filas enormes de nãos onde aprenderam e dos campos de timidez daninha onde pensam. Gostava de os recolher belos, brancos e declinados para cores fugidias, sempre com os cabelos despenteados e os dentes hesitantes. Gostava de os atar com fitas coloridas e levá-los para cidade para os entregar com sorrisos transbordantes a crentes, um a um, para estragar os crentes. Um crente estragado é um crente salvo de si mesmo. Primeiro, os profanos vão atacar-lhes as pernas com melodias dançantes feitas com alguidares e vindas do outro lado do mundo. Depois, vão-lhes aos ouvidos entrando-lhes com o que está acontecer ali do lado de fora da cera, na rua, e que não se sabe jamais para onde vai. Pouco depois os profanos far-lhes-ão cócegas junto ao nariz e obrigá-los-ão a rir sozinhos em circunstâncias constrangedoras e contraproducentes, como reuniões de família e filas de supermercado. O movimento é rápido e irreversível, logo minutos a seguir começam a abrir-se rachas no crente por todo o lado, e todos os órgãos não sabem subitamente o que fazer nem o que tocar, os livros cheios de aborrecimento e entusiasmos conversores e toda a sorte de bugigangas começando a saltar cá para fora por entre as rachas. Atacado de pólenes irresistíveis por dentro, há um instante em que o crente espirrará e se desfazerá todo de vez, estourando em seus bocados para todos as áreas do chão. Isto será de tal modo que levará um certo tempo até o pó pousar completamente. É aí que ele vai agradecer. Na sua sala e em meio a toda a devastação, ao espalhadamente olhar de baixo para cima a inocente jarra ali posta cheia de profanos amarrados com uma fita colorida, profanos que olham para ele mal contendo o riso entre si, reconhecerá então facilmente a origem. Sorrirá hesitante e levemente de volta e enfrentará pela primeira vez o seu próprio vazio.
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apresentação do livro chão de orações - 15 imagens a cores e 15 textos meus (orações)
encomendável por €13+portes no início da secção INFO deste site

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